Os brasileiros que deram o que falar na conferência do Clima das Nações Unidas, a COP, em Dubai

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Uma dupla de brasileiros deu o que falar na 28ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-28), em Dubai, que terminou dia 12 do mês passado. Os paulistas Priscilla Zacharias e  Adilson Velasco são os nomes da vez quando o assunto são os princípios ESG — conceito que reúne as políticas de meio-ambiente, responsabilidade social e governança  — no Brasil. Eles são alguns dos que se destacaram entre os cerca de 1.500 integrantes da delegação brasileira da COP-28, formada por nomes do setor público, empresariado e sociedade civil. Foi a maior delegação da história do Brasil num evento deste porte. As atenções realmente se voltaram para nós durante a conferência, já que um dos assuntos mais debatidos por lá, foi a questão do desmatamento da Amazônia. Isso sem falar que a próxima edição da conferência, a COP-30, acontece em 2025 em Belém. A última edição da COP completa um mês nesta sexta-feira (12/01), e quais as diretrizes e metas desse evento que ganhou os olhos do mundo e teve o Brasil no centro dos debates e mesas-redondas?

Priscilla começa destacando a grande participação de mulheres brasileiras no evento, puxadas pela primeira-dama Rosangela Silva. “Um dos pontos altos da COP foi o encontro da primeira-dama, Janja, com a sheikha Fatima bint Mubarak Al Ketbi, conhecida como ‘Mãe da Nação’ e mãe do presidente dos Emirados Árabes, Mohammed bin Zayed Al Nahyan. Ser uma mulher brasileira falando lá na conferência, sobretudo representando a reciclagem, um mercado tão masculino e marginalizado, é carregar a voz e a força da necessidade de mudanças urgentes. Buscando, não somente, soluções ambientais, mas a resiliência, a representatividade e a perspectiva feminina da mudança global”, diz Priscilla, CEO da Trevo Reciclagem, que ganhou destaque na ONU graças a sua forma de trabalhar com reciclagem de plásticos pós-consumo e pós-indústria.   

Priscilla e Adilson abriram a Trevo Reciclagem em 2018. A empresa, que apesar de ser de médio porte faturou R$ 30 milhões no ano passado, funciona em Embu das Artes, São Paulo. Dedicada à reciclagem de plásticos descartados por consumidores e que iriam para lixões ou aterros sanitários, a Trevo foi uma das poucas PMEs a embarcarem para Dubai e levarem para lá uma solução para resolver uma parte importante do problema ambiental do planeta. A empresa compra o material com cooperativas de catadores de resíduos. Depois disso, o material é triado, moído e lavado. Ao virar praticamente um farelo já livre da contaminação por outros materiais, o plástico é vendido a indústrias com alguma pegada de sustentabilidade na cadeia produtiva.  Detalhe que esse farelo de plástico é então aquecido, para virar novamente um material bom para compor embalagens, caixas e produtos semelhantes.

Na prática, esse modelo inovador desenvolvido por eles e que gerou interesse na Conferência do Clima das Nações Unidas funciona assim: parte dos resíduos plásticos pós-consumo compostos de PP, PE e PEAD, como embalagens de produtos de limpeza, cosméticos, embalagens alimentícias, brinquedos, utensílios, caixas e galões que iriam para lixões e aterros, são destinados a Trevo. Lá são triados, moídos, lavados e distribuídos às indústrias, que os transformarão novamente em produtos. “Este processo contribui com a preservação do ambiente, gerando emprego, renda e alimentando uma cadeia circular que movimenta bilhões de reais anualmente no Brasil”, explica Adilson. Portanto, a dupla, através da sua empresa,  impede assim que aproximadamente 10.000 toneladas de resíduos sejam encaminhadas a aterros sanitários ou possam poluir cidades, florestas e oceanos, anualmente, no Brasil. 

Eles foram convidados a participar da COP após se tornarem, recentemente, signatários do PactoGlobal da ONU, mais precisamente em junho deste ano. E, no mês seguinte, receberam uma ligação de um membro do RTCC (Responding to Climate Change Limited), com o convite.” Trata-se de uma ONG que trabalha junto à ONU e possui o ‘Status Consultivo Especial’, junto ao conselho econômico e social das Nações Unidas”, explica Priscila Zacharias. ‘Uma grande surpresa que uma empresa tão jovem, de médio porte e do nosso segmento, assuma responsabilidades sociais e ambientais da magnitude do pactoglobal”, orgulha-se Adilson. Com olhar contemporâneo —  modernos e descomplicados, longe daquela imagem de “ecochatos” que permeia nomes importantes do setor  —,  eles são extremamente realistas. “Queremos mostrar as dificuldades de ser ESG, onde falta o básico, nas comunidades, nas favelas”, explica Adilson. Lembrando que a COP-30 acontece em Belém, em 2025 e, a julgar pelo calor do verão que acabou de começar e já está batendo recorde de calor em várias cidades brasileiras, em termos de reciclagem e melhoria do clima, ainda temos muito o que fazer até lá. 

Fotos divulgação

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