Para as arquitetas Claudia Passarini e Vanessa Paiva, a seleção os itens decorativos, além de complementar o estilo do projeto, expressa histórias, referências e a identidade do morador, sempre seguindo a ideia de que ‘menos é mais’
Um projeto de arquitetura de interiores é constituído por muitas etapas. Além disso, entre as fases finais do processo, está a definição dos objetos decorativos. Esses objetos serão responsáveis por ornamentar os ambientes da casa, trazendo personalidade e estilo ao espaço. Para muitos, a dedicação para compor essa seleção pode até soar como algo ‘menos importante’. No entanto, as arquitetas Vanessa Paiva e Claudia Passarini discordam desse pensamento. Ambas, no comando do escritório Paiva e Passarini Arquitetura, acreditam que a escolha cuidadosa dos objetos decorativos é fundamental para o sucesso de um projeto.
“Uma residência ou um apartamento se tornam lar quando recebem essa personificação”, avaliam. Assim, seja em maior ou menor escala, com itens de valores diversos, segundo elas a decoração dos ambientes acompanha não apenas o estilo do projeto, como também as características e o modo de vida do morador.
Para Vanessa, idealizar a composição do décor denota o interior das pessoas.
“Filosoficamente, podemos entender como a expressão interior de quem habita aquele espaço”, analisa.
“Tanto para o proprietário que desfruta daquela composição, como para quem adentra a casa e convive por um período no ambiente, é possível fazer uma leitura da alma e conhecer um pouco mais sobre quem é esse ser humano”, aponta Claudia.
Um pouco de história
Na etimologia, decorar deriva do verbo latino decoro, que significa ‘ornar, enfeitar, honrar, dignificar’. Já a palavra decoração originou-se na Roma Antiga como decoratione. Além disso, essa noção de embelezamento dos espaços começou a ser apreciada muito antes. De fato, historiadores apontam que a habilidade de selecionar um item ou conjunto para expressar o belo nos espaços remonta ao Egito Antigo. Naquele período, a civilização já valorizava a presença de vasos, pinturas e outros recursos que representavam a arte e suas predileções.
Mas e o décor contemporâneo?
Criar uma decoração autêntica não significa, necessariamente, um investimento alto ou seguir tendências que estão em alta. Para as profissionais, o importante é que cada elemento inserido em um ambiente faça sentido para quem vai viver ali. “Não existe fórmula pronta. O bonito é aquilo que conecta com nosso interior e acrescenta conforto e identidade”, pontua Vanessa. Por isso, elas sempre incentivam os clientes a inserirem objetos afetivos, como lembranças de viagem, obras de arte adquiridas ao longo da vida ou até peças herdadas da família.
Parafraseando o ditado, as arquitetas compartilham da visão do ‘menos é mais’. Segundo elas, não adianta preencher um espaço com um número grande de artefatos apenas por serem ‘bonitos’.
“A não ser que o proprietário do imóvel seja um colecionador, fato que justifica o volume de algo, por exemplo. O prazer está em apreciar a estética ou significado daquilo que figura em cima de uma mesa”, exemplificam.
No vasto universo da decoração, Vanessa e Claudia sugerem os itens produzidos com materiais naturais como madeira, sementes, pedra, cerâmica, metal e fibras como possibilidades com um amplo acervo de peças.
“Gostamos também de prestigiar o design nacional por meio de artesões regionais que reproduzem suas culturas por meio da arte”, declara Vanessa.
Os livros decorativos também entram nesse rol de possibilidades. Eles podem ser destacados dentro do acervo do morador ou usados para constituir uma mesa de centro ou prateleiras, por meio de títulos de arquitetura, fotografia ou culinária.
“Além de revelar paixões dos moradores, pode despertar conversas e inspirar quem passa por ali, afirma Claudia.
No décor contemporâneo, cada elemento deve dialogar com o conjunto, criando elaborações que respeitam tanto o vazio tanto quanto o cheio. O verdadeiro charme está nos detalhes: o encaixe entre texturas, a escolha certeira de cores, a luz que valoriza uma peça ou a memória afetiva que um objeto carrega. Em um mundo saturado de informações visuais, o décor contemporâneo propõe pausa, essência e autenticidade.







Créditos das Fotos: Xavier Neto