Para celebrar os 20 anos de trajetória, os arquitetos Mariana Meneghisso e Alexandre Pasquotto decidiram eternizar as bodas de porcelana com a estreia na maior mostra de decoração das Américas. O ambiente, Natureza em Essência, destaca uma arquitetura que acolhe e emociona por sua harmonia e idealização do futuro

Há uma nova era de bem-estar residencial a caminho que trilha um movimento inexorável na arquitetura. Mais do que abrigar rotinas, os espaços seguem incorporando novos significados, tornando-se refúgios de autocuidado, acolhimento e conexão com a natureza. É sob essa óptica que nasce o ambiente Natureza em Essência, assinado por Mariana Meneghisso e Alexandre Pasquotto, casal de arquitetos à frente do escritório Meneghisso & Pasquotto Arquitetura, para a CASACOR São Paulo 2025.

Neste ano, a 38ª edição da mostra propõe um olhar sensível e transformador com o tema Semear Sonhos. Dessa forma, convida os profissionais a refletirem sobre o futuro. Além disso, estimula o cultivo de novos pensamentos, valores e sentimentos que se frutifiquem como espaços mais humanos, sustentáveis e carregados de afeto.

Inspirado nessa temática, o banheiro Natureza em Essência convida o visitante a uma parada obrigatória no tempo. Para saber quem somos e entender nossos caminhos e propósitos é preciso respirar e reconectar-se com nossas origens que são, intrinsecamente, arraigadas ao natural.

“Com a força que a arquitetura nos provê, possibilitar que o outro sonhe é inspirar a cada um o legado de deixar uma semente no mundo. O Natureza em Essência nasceu com essa perspectiva de entregar um local capaz de despertar emoções, promover a alegria de se estar e incentivar uma pausa na rotina. Ao combinar o tempo que o banheiro nos pede, elaboramos um ambiente que acolhe o agora e que também aponta para o futuro que desejamos”, explica Mariana Meneghisso.

Entre o jardim, formado por floreiras galvanizadas que exibem flores de jasmim — símbolo do amor verdadeiro —, o artista Gustavo Maciel transformou a parede principal em uma tela em branco. Com uma talhadeira, ele desenhou a superfície de concreto, imprimindo sua marca no espaço. Em destaque, mais uma analogia sobre o casal com a apresentação de uma revoada de pássaros voando com sua plena autonomia.

“Esse painel traduz com sensibilidade o espírito do nosso ambiente ao evocar as ideias de liberdade e movimento. E são justamente os dois primeiros, que se sobressaem em um primeiro plano, que se tocam e complementam como as forças yin e yang. Essa correlação representa o nosso vínculo como casal e dupla dinâmica à frente do escritório”, comenta Alexandre Pasquotto.

Quando o oposto soma e não divide

Com 27 m², o Natureza em Essência se apresenta como um santuário particular. O espaço difunde sensações, equilibra contrastes e convida o público a reatar vínculos essenciais à nossa existência, muitas vezes esquecidos. Entretanto, para que cada um estabeleça o processo de ouvir sua voz interior, é preciso haver sintonia entre nossos corpos físico e mental.

“Não há compreensão se não nos permitirmos ao silêncio que acessa nossos sentidos”, verbaliza Mariana.

Assim, alinhado com as questões funcionais, os arquitetos materializaram um banheiro que integra cabines e bancada dentro de ambientação de estar e paisagismo que reúnem fluidez e muito conforto. A dualidade é o fio condutor do projeto e, longe de ser um antagonismo, os opostos aparecem como potências que se complementam. Essa proposta é percebida em cada detalhe, do conceito aos materiais escolhidos.

“A beleza está na convivência entre os contrastes e nossa história pessoal é um exemplo dessa complementaridade. Enquanto um possui um olhar macro, outro foca no detalhe. Em situações em que um é mais técnico, o outro é mais poético e, quando um acrescenta elementos masculinos, o outro adiciona o feminino. A soma dessas disparidades eleva nossos trabalhos com mais vigor e verdade”, compartilha Alexandre.

Esse raciocínio se concretiza pela contraposição avistada no piso de porcelanato escuro, de aparência sólida e sóbria, da linha Audaz. Com isso, essa escolha sinaliza uma estética brutalista e urbana para o projeto arquitetônico. Por outro lado, o forro vinílico amadeirado, da coleção Origens, com desenho de curvas suaves, remete ao movimento da natureza. Sua leveza e forma lembram a copa de uma árvore, criando assim harmonia no espaço.

Arte, memória e formas orgânicas em perfeita harmonia

Logo na entrada, a arte aparece no mural de tecido, pintado à mão pela designer de superfícies Juliana Pelegrinello, especialista em intervenções autorais. Aliás, a obra se integra ao concreto aparente da viga e do pilar da construção original do Parque da Água Branca. Seu gesto poético ressoa quando a tela humaniza a rigidez e, consequentemente, valoriza o diálogo entre passado e presente.

Completando a área de estar, planejada para descanso e admiração, o mobiliário de designers nacionais reforça o caráter autoral e sustentável do projeto. Destaque para as curvas do sofá off-white, assinado por Richard Daniel (7Oito9 Design), que convidam à permanência e à contemplação do ambiente. Para equilibrar a cena, a mesa de centro orgânica, de Fernanda Marques (Breton), completa a composição.

No centro do ambiente, o tapete é um destaque à parte. Seu formato lembra os veios de um tronco de árvore. Dessa forma, ele simboliza os ciclos da vida, o tempo e as raízes.

“Ele manifesta nossa narrativa, pois exprime o que já vivemos e o quanto ainda queremos aproveitar nossas existências. Eu o interpreto como uma alegoria que revela nosso aprimoramento como pessoas e profissionais”, revela Mariana.

Design sensorial e acolhimento afetivo no lavabo social

Na bancada, dois lavatórios repousam sobre uma superfície escultural. Para isso, a nova resina da Fórmica, modelo Paladina Green, foi escolhida como uma prévia inédita da coleção Matizes, destinada para áreas molhadas e que, além disso, também foi aplicada para revestir o banco. Complementando o ambiente, o projeto luminotécnico é percebido através das luzes indiretas e cênicas, com fitas de LED, que alternam a dimerização para entregar atmosferas envolventes.

Já as quatro cabines, incluindo um banheiro acessível e um fraldário, foram executadas com a aplicação do MDF rosê nas portas e divisórias — uma escolha que, por sua vez, reforça a paleta afetiva e aconchegante. Para assegurar harmonia, a marcenaria sob medida garante leveza visual, mantendo a proposta de um refúgio contemporâneo e inclusivo.

Como toque final, a sonoplastia combina sons da natureza, como o canto dos pássaros e o barulho do vento entre as folhas, com uma curadoria afetiva de músicas brasileiras, selecionadas pela filha do casal. Assim, essa trilha sonora transforma o espaço em um refúgio que conclama memórias e desperta sentimentos.

Sustentabilidade como escolha consciente

O alinhamento do casal com o meio ambiente não é um adereço, mas um princípio essencial. Para os arquitetos Mariana Meneghisso e Alexandre Pasquotto, tudo na natureza é finito. Materiais tecnológicos priorizaram soluções que evitam a extração intensiva de recursos naturais. Eles optaram por revestimentos e acabamentos de menor impacto ambiental, além de mobiliários e objetos que seguem um design mais consciente e sustentável.

“Sustentabilidade é um valor inegociável e está presente não só aqui na CASACOR. Tudo foi selecionado com base em critérios de durabilidade, possibilidade de reuso e baixo impacto ambiental”, ressalta Alexandre.

O forro vinílico, que substitui a madeira natural, garante visual aconchegante com menor agressão ao meio ambiente. Já a bancada dos lavatórios, feita com resina da nova linha da Fórmica para áreas molhadas, mostra a inovação como meio evitar a extinção de recursos naturais. No final da CASACOR, divisórias, painéis e a marcenaria planejada serão desmontados e reaproveitados – conduta que elimina o desperdício de materiais.

Uma estreia simbólica

A participação na CASACOR São Paulo 2025 registra um marco na trajetória do escritório Meneghisso & Pasquotto Arquitetura. Além de debutar na maior e mais completa mostra de arquitetura e design das Américas, o ambiente marca as duas décadas de atuação com um projeto que simboliza a caminhada pessoal e profissional dos dois.

“Estar aqui se traduz como uma simbologia do êxito da nossa união nesses dois aspectos e uma conquista que marca a linha do tempo de nossas vidas. Significa o florescer de um jardim onde colhemos a maturidade de uma caminhada feita com propósito e, dessa forma, nosso ambiente é carregado de fragmentos que contam sobre nós. Sonhos plantados com amor e empenho e que agora ganham formas diante do público”, destaca Mariana.

Na vida de ambos, a arquitetura sintetiza tudo o que alcançaram juntos e o fio condutor dos objetivos que constituíram ainda na juventude. Na cumplicidade entre casal e companheiros de trabalho, Mariana e Alexandre consolidaram a filosofia derivada do encontro de duas visões distintas, porém complementares, que se nutrem da natureza, da cultura e da escuta sensível que praticam.

Fotos: Rafael Renzo